O OUTRO LADO DA MOEDA!!!

11.29.2006

"A Pátria está acima da República e da Monarquia."

Esta expressão utilizada no titulo deste post é uma das afirmações que balizou para além das referidas no texto a seguir, a apresentação por Manuel Alegre, do livro biográfico de Duarte Pio, cidadão que se julga acima de outros e que pelos vistos é reconhecido por pessoas que se dizem Republicanas como “chefe” da instituição monárquica:
"António Sérgio nunca deixou de criticar a mentalidade dogmática e aquilo a que chamava “o espírito de seita, de bairro e de capelinha.” Considerava o sectarismo uma doença nacional. Por isso alguns terão ficado surpreendidos com o facto de um republicano e homem de esquerda como eu vir apresentar esta biografia de D. Duarte. Devo dizer que o faço com gosto. Em primeiro lugar pela consideração e respeito que me merece D. Duarte, não só como chefe da instituição real, mas, para utilizar uma feliz expressão de Mendo Castro Henriques, como “intérprete activo de Portugal.” E ainda porque se trata de uma boa ocasião para ultrapassar preconceitos e reflectir sobre alguns temas nacionais.”"

Confirma-se assim o que venho a defender em vários posts deste Blog, a noção de "Pátria" hipoteca até as liberdades individuais pois um sistema monárquico é um sistema ditatorial, não irei justificar porque o considero, o obvio não se justifica, apenas existe. Pelos vistos faz-se o mesmo utilizando argumentos de anti-sectarismo, como se a noção de “pátria” adequada ao nacionalismo em si mesmo (como é o caso) não fosse uma das mais sectárias noções existentes, aquela que por excelência cria em si não uma visão nobre da existência do outro e da diferença mas que serve para criar diferenças e "levantar" muros de intolerância e fanatismo.

António Sérgio defendia uma filosofia com profundas implicações humanas e sociais, regendo o comportamento e a acção de cada um no todo social de que faz parte e que a procura dos meios para a realização da sociedade ideal deveria assim ter em conta dois princípios inalienáveis, sendo o primeiro a necessidade de considerar a natureza humana como um fim em si própria e como valor absoluto, e o segundo a necessidade de conciliar os actos que se praticam para a libertação dos homens com a liberdade de cada ser humano: "caminhe-se para a liberdade através da liberdade"! Este em coerência com o seu sistema de pensamento, defendeu que a democracia, ao invés de ser uma coisa é uma actividade que se identifica com o processo da cultura, um dinamismo de essência espiritual, um fim que radica na autoridade crescente de cada um sobre si próprio, acabando por tornar o estado desnecessário, pois substituído pelo império de cada alma livre. Assim, a vontade geral que a democracia invoca é "a vontade de qualquer indivíduo, sempre que este, para proceder, toma uma atitude de pensar objectiva, racional, geral", subindo do indivíduo à pessoa, do plano biológico ao plano do espírito, fazendo o homem coincidir com o cidadão. Utilizá-lo para justificar a defesa do nacionalismo patriota é em si um abuso que alguém pouco inteligente ou com manifesta má fé faz.

Aliás o argumentario patriota nacionalista inclui outras expressões que são bastamente utilizadas neste discurso de Manuel Alegre: "E este é um momento em que são precisos patriotas que saibam renovar e afirmar os valores permanentes de Portugal e dar ao conceito de Pátria um sentido de modernidade e de futuro. Ou como queria Fernando Pessoa, “cumprir Portugal”, sabendo que o que Portugal tem de mais moderno e permanente é ser “o futuro do passado”."

Segundo este deve-se dar á Pátria um sentido de Futuro quando sabemos que o Futuro será entre patriotas nacionalistas e patriotas universalistas ou cidadãos terrenos e não afectos a espaços geográficos, será obvio que se terão que organizar politicamente de forma geográfica, mas esta organização deve ser um meio e não um fim em si mesmo, disso não tenho duvidas.

Aliás será que quando Fernando Pessoa falava de um império cultural, não saia da noção de um Império físico que apenas se cingia a fronteiras físicas? Um poeta que viveu na Africa do Sul e que escreveu na língua de Shakespeare óptimos poemas era em si um exemplo de universalismo, e não como diversos nacionalistas gostam de proclamar, apenas e só alguém que pensava por e em Portugal.

Os campos definem-se e se eu tivesse duvidas diria que apenas começa a ver-se de que tarimba são feitos os alguns que se dizem republicanos, que pelos vistos hipotecam os seus valores por noções egoístas e nacionalistas.

11.28.2006

O Bem Aventurado

O Alex Gruli é um actor talentoso que tive a oportunidade de conhecer numa comunidade de amizades, este entretanto fez uma curta-metragem excepcional que se intitula “O Bem Aventurado”.

Decidi partilhar convosco esta excelente produção, que este pôs no You Tube:

http://www.youtube.com/watch?v=Mpn8HuQNoj0


Ele pede que depois de a visionarem dêem a vossa opinião.

A Caça

"A CAÇA É O PEQUENO VIETNAME DOS FRUSTRADOS
É A VÁLVULA DE ESCAPE DOS FRUSTRADOS
É A GUERRAZINHA PERMITIDA AOS HOMENS EM TEMPO DE PAZ."



Henri Tachan, cantor francês.

11.05.2006

Fabricio Carpinejar

No outro dia navegava por aí e dei de caras com o Blog de Fabricio Carpinejar, este foi um dos excelentes trechos de uma Crónica "Sou quando deixo de ser", deste:
"Quando amo, nunca me vejo tão próprio. Sou possível. Sou véspera. Viera para ler minha vida. A praia amarelada é meu rosto pensando. O marulhar não me distrai. Os pássaros escoltam a luz até o alto-mar. Os barcos se soltam como bóias e recolhem promessas de Navegantes. Não há guerra civil. O espelho antigo perdoa as rugas que chegaram depois. As mãos são lábios apertados. O lápis não quebra a ponta ao sugerir quadros.
Mas quando amo não sou eu. Quando amo, me esvazio de mim para ser ela. Eu me anulo para ser ela. Não compreendo como sou mais eu logo quando não sou. Como me sinto pleno quando saí de mim. Como me sinto lúcido ao desarticular o senso. Como me sinto guardado ao me desperdiçar. Ao me sacrificar, acredito que me reencontrei."
Entretanto escrevi-lhe uma observação no seu Blog e tive uma simpática, simples e desarmante resposta, (daquelas que diga-se em abono da verdade eu já não consigo dar).
Publico de seguida uma Entrevista dada por este á Folha de Londrina, um jornal do Paraná, da sua segunda cidade mais populosa, a seguir a Curitiba:
"Um Criador Contemporâneo
Antenado com seu próprio tempo, o escritor Fabrício Carpinejar explora as linhas do cotidiano conquistando cada vez mais leitores.
Fabrício Carpinejar: "Se eu era um menino feio, é óbvio que eu exercitei as cartas de amor. Mas eu achava que escrever era covardia, eu fui descobrir depois que escrever era coragem"
Curitiba - Para quem acredita na existência de uma metamorfose no comportamento masculino, existe um exemplo. Alguém a quem apontar o dedo e dizer: esse aí faz parte da revolução. Mas felizmente não é preciso guilhotina, nem tampouco interrogatório para saber mais sobre o tema. O poeta e cronista gaúcho Fabrício Carpinejar, 33 anos, não oscila ao falar sobre o assunto nem admitir (ou mostrar) que faz parte dessa mudança. Um exemplar autêntico dos homens que não só querem saber mais sobre os mistérios femininos, como também não têm medo de se admitir sensíveis.
Dono de uma personalidade intrigante e sedutora, Carpinejar utiliza as palavras para soprar ao leitor, masculino ou feminino, a pujança da vida. Depois de saborear um brownie com sorvete de nozes, numa charmosa confeitaria de Curitiba - onde participou do projeto Sempre um Papo, da Caixa Econômica Federal - ele concedeu entrevista à Folha. Acompanhe.
Como a literatura nasceu em você?
Eu não diria que ela nasceu. Eu diria que eu a despertei à medida em que aprofundei meus próprios defeitos. Todas as dificuldades que eu tive na infância e na adolescência eu nunca notei como uma abolição do caráter. Eu notava como se fosse o princípio do caráter porque eu tinha que exigir mais de mim. O fato de ser feio, por exemplo, te torna mais esforçado. Tu vai explorar muito mais a tua capacidade de persuasão. Tu não vai ser preguiçoso. Tem que se esforçar o dobro, o triplo. Mas isso é uma recompensa, porque tu vai aprender a compreender o outro. Tu vai aprender a se antecipar ao outro. Tu vai aprender a sair de si mesmo.
E essas questões te ajudam a escolher os temas que você aborda nos seus poemas e crônicas, já que o cotidiano, as relações amorosas, a família, são questões recorrentes nos seus textos?
Eu acho que isso é do autismo infantil. O fato de estar sempre desatento para o conjunto, mas desperto e atento para o detalhe. E a maioria das pessoas não repara nos detalhes porque não os julgam importantes. Acho que as pessoas são muito ambiciosas no amor. A gente devia ser menos. A gente sempre procura uma salvação. Sempre procura alguma coisa que tem utilidade. Eu fui criado ao lado de um terreno baldio, ao lado de uma reserva de inutilidades, uma reserva de sonho, uma reserva de imaginação. Chegou o momento que eu não queria que minha mãe transformasse aquele terreno ou o comprasse para convertê-lo em um campo de futebol. Porque ali eu podia imaginar, além de um campo de futebol, outras coisas. Eu podia brincar com toda a insuficiência do terreno. A gente tem que brincar na vida com o que a gente também não foi.
Reunindo essas características e esses conceitos, você conseguiu uma coisa que é difícil hoje na literatura, que é a projeção. Você acha que é raro conquistar isso no Brasil?
Eu sou passional. Eu não vivo porque eu posso. Eu vivo porque eu quero. Eu vivo porque eu não sei fazer outra coisa. Aliás, todas as minhas incompetências herdaram essa competência literária. O escritor não é aquele que foi escolhido, é aquele que se escolheu. Eu me escolhi. Eu não tinha ninguém pra fazer no meu lugar aquilo que eu tinha que fazer. Eu não tive a opção da covardia. Se eu não cuidasse de mim, quem cuidaria?
Essa tua experiência de vida é o que te credencia para ter colunas, como a que você publica na Super Interessante, por exemplo, em que você dá conselhos amorosos?
Imagina, se eu era um menino feio, deslocado, é óbvio que eu exercitei as cartas de amor. Mas eu pensava que escrever fosse covardia. Como eu não tinha capacidade para me expor publicamente, eu escrevia. Eu fui descobrir depois que escrever é coragem. Que é muito mais difícil escrever e se comprometer e assumir o risco, a letra, do que falar. Escrever é olho no olho, não tem como se desviar, não há letra que se desvie. E eu também fui sempre o melhor conselheiro. Sempre trafeguei sobre universos paralelos, masculino e feminino.
Fale um pouco sobre sua relação com a internet, depois do seu blog, que acumula 300 mil visitas, teve alguma transformação na sua maneira de escrever?
Houve tranformações, sim, porque depois do blog eu comecei a ler o leitor e me abrir. Eu contesto os escritores que pensam que se aproximar do público é se diminuir na literatura. Bom escritor é aquele que está no mesmo patamar do leitor, a ponto de ambos se confundirem. Eu não suporto a idéia de que o escritor tem que estar um degrau acima. Você está lançando um livro infantil.
Para quando é e como são os seus projetos agora?
Eu estou escrevendo um livro de poesia intitulado ''Meu filho, minha filha', que fala sobre minha experiência paterna em dois estágios. Uma com um filho morando comigo e outra com filho morando longe. Eu quero pegar esses dois ângulos da paternidade: o pai de final de semana e o pai da sequência. Estou bem feliz com o resultado, mas só vou lançá-lo em 2008. A Bertrand Brasil também está republicando toda a minha obra. Este ano deve sair ''Um Terno de Pássaros ao Sul'', o ano que vem ''Terceira Sede'' e em 2008, ''Biografia de uma Árvore''. O infantil é o ''Filhote de Cruz Credo'', onde eu brinco com a história dos meus apelidos e que vai sair pela Editora Girafa. A ilustração é do Rodrigo Rosa. E no ano que vem sai meu outro livro de crônicas, ''O homem quando chora'', que mostra essa metamorfose masculina de comportamento.
Por Katia Michelle"

Líder da oposição na Bielorússia ganhou o Prémio Sakharov 2006

Alexander Milinkevich, físico de 59 anos e líder da oposição política na Bielorússia, ganhou o Prémio Sakharov 2006 para a liberdade de pensamento, atribuído pelo Parlamento Europeu. A Bielorússia é muitas vezes referida como o último reduto de tirania da Europa e tem sido governada desde 1994 pelo Presidente Lukashenko. Em Março, Milinkevich foi candidato às eleições presidenciais, cuja regularidade foi contestada pela UE e pelos EUA.

Os apoiantes do Presidente Lukashenko afirmam que as eleições deste ano lhe conferiram 82% dos votos, contra 6% para Milinkevich. No entanto, os observadores da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE) consideraram as eleições "seriamente irregulares" e a delegação de eurodeputados foi impedida de entrar na Bielorússia antes das eleições. Após o acto eleitoral, o Presidente do Parlamento Europeu, Josep Borrell, referiu que as violações sistemáticas dos direitos humanos relativamente ao povo bielorusso não permaneceriam impunes. Na sequência das eleições, Lukashenko e outros titulares de pastas ministeriais foram impedidos de entrar na UE.

Tributo ao jornalismo bielorusso
Em Fevereiro deste ano, Alexander Milinkevich encontrou-se com eurodeputados e pediu-lhes apoio, afirmando, no entanto, que compete ao povo bielorusso alterar o estado de coisas. Em Setembro de 2005, uma resolução do Parlamento Europeu condenou o governo da Bielorússia pelo encerramento, nos últimos anos, de "diversos partidos políticos, 22 jornais e mais de 50 ONG pró-democracia (...) por criticarem o Presidente e as suas políticas". Foi esta a razão que esteve na base da atribuição do Prémio Sakharov 2004 à Associação Bielorussa de Jornalistas.
Alexander Milinkevich
Nasceu em 1947, em Hrodna, Bielorússia. Estudou física e matemática na Bielorússia, em França, nos EUA e na Alemanha. Foi professor associado na Universidade de Hrodna, Bielorússia, entre 1978 e 1980 e entre 1984 e 1990. Dirigiu o Departamento de Física da Universidade de Setif, na Argélia, entre 1980 e 1984. Em 2001 foi responsável pela campanha do candidato presidencial Siamion Domas e em 2006 foi candidato presidencial, contra o Presidente Lukashenko.

Jornalista e político libanês nomeado para o Prémio Sakharov

Ghassan Tueni, jornalista, político e diplomata libanês, é um dos três nomeados para o Prémio Sakharov 2006. Destacou-se por defender a tolerância num país dividido entre diversas comunidades religiosas e étnicas e por lutar pela liberdade e pela unidade no Líbano, promovendo a ideia de que o país se pode tornar mais forte através da sua diversidade. Foi nomeado em memória de diversas personalidades assassinadas no Líbano.
Ghassan Tueni nasceu em Beirute, em 1926. Regressou ao Líbano em 1948, depois de ter completado os seus estudos na Universidade de Harvard. A sua carreira política remonta a 1951 e já ocupou diversos cargos em governos libaneses. Foi embaixador e representante permanente do Líbano junto das Nações Unidas, entre 1977 e 1982. É pai de Gebrane Tueni, o editor jornalístico libanês assassinado o ano passado. Ghassan Tueni aceitou ser nomeado para o Prémio Sakharov 2006 para a liberdade de pensamento em memória de cinco personalidades assassinadas no Líbano:
Gebrane Tueni, filho de Ghassan Tueni, membro do parlamento libanês. A sua luta contra a presença militar e contra a influência política da Síria no Líbano valeu-lhe várias ameaças de morte, que o levaram a exilar-se temporariamente em França. Morreu no dia 12 de Dezembro de 2005, vítima de um atentado bombista, um dia depois de ter regressado ao Líbano.
Rafik Hariri, primeiro-ministro libanês entre 1992 e 1998 e entre 2000 e 2004. Desempenhou um papel fundamental na reconstrução de Beirute e lutou pela unidade entre as diferentes religiões e grupos étnicos. Em 1993 fundou um canal televisivo em Beirute, tendo sido igualmente fundador de um jornal, o Al-mustaqbal (O Futuro). Foi assassinado no dia 14 de Fevereiro de 2005, num atentado bombista no qual morreram mais 21 pessoas, entre as quais o antigo Ministro da Economia, Bassel Fleihan.
Bassel Fleihan, assessor do Ministro das Finanças libanês entre 1993 e 1999 e Ministro da Economia e do Comércio entre 2000 e 2003, desempenhou um papel preponderante no desenvolvimento do programa de reforma económica do Líbano. No dia 14 de Fevereiro de 2005 foi vítima de um atentado bombista, juntamente com Rafik Hariri, e morreu dois meses depois no hospital.
Samir Kassir, professor universitário, jornalista e historiador, também foi colunista do jornal diário libanês An-Nahar. Foi assassinado num atentado bombista no dia 2 de Junho de 2005.
George Hawi, político libanês e antigo secretário-geral do Partido Comunista Libanês, manifestou-se muitas vezes contra a interferência da Síria em assuntos libaneses. Morreu em Beirute, em Junho de 2005, vítima de um atentado bombista, quando uma bomba detonada por controlo remoto explodiu no seu carro.

Finalistas do Prémio Sakharov 2006

No dia 25 de Setembro, membros das Comissões Parlamentares dos Assuntos Externos e do Desenvolvimento seleccionaram os três finalistas para o Prémio Sakharov 2006 e os três finalistas nomeados para o Prémio Sakharov 2006 foram, por ordem alfabética:
A candidatura conjunta "todos os que lutam pelos reféns na Colômbia", representada por Ingrid Betancourt e pela Fundação Pais Libre;
Alexander Milinkevich, chefe da oposição na Bielorrússia, ex-candidato às eleições presidenciais que esteve detido quinze dias por ter participado numa manifestação não autorizada em Minsk;
Ghassan Tueni, jornalista e diplomata libanês, nomeado em memória das personalidades libanesas assassinadas nos últimos anos: Rafiq Hariri, Basil Fuleihane, Samir Kassir, Georges Haoui e Gebrane Tueni.

A Conferência de Presidentes designou, durante o mês de Outubro, o laureado do Prémio Sakharov 2006. A cerimónia de entrega do prémio, pelo Presidente do Parlamento Europeu, terá lugar no dia 13 de Dezembro, durante a sessão plenária.

Nomeados para o Prémio Sakharov 2006

Os nomeados deste ano representam diversas formas de dedicação à defesa dos direitos humanos. A resistência contra regimes totalitários, a defesa dos direitos das minorias, o combate à violência contra as mulheres e a luta pela paz, pelo diálogo e pela liberdade de expressão são alguns exemplos admiráveis. Os 10 nomeados para 2006 foram apresentados pelas Comissões dos Assuntos Externos e do Desenvolvimento e pela Subcomissão dos Direitos do Homem do Parlamento Europeu.
Hélène Flautre, presidente da Subcomissão dos Direitos do Homem, salientou a diversidade dos candidatos deste ano e afirmou que "o prémio de 2006 representa um ano de trabalho do PE no domínio dos direitos humanos".
No dia 25 de Setembro, durante uma reunião conjunta, a Comissão dos Assuntos Externos e a Comissão do Desenvolvimento decidiram a lista dos 3 candidatos seleccionados. Esta lista será então remetida à Conferência dos Presidentes, que seleccionarou o vencedor durante o mês de Outubro. Cada um dos nomeados foi proposto por, pelo menos, 37 eurodeputados, ou por um grupo político.
Os nomeados de 2006 foram:
Ingrid Betancourt
Política colombiana, ex-senadora, activista contra a corrupção e o tráfico de droga, luta pelo fim da guerra civil através da negociação. Desde Fevereiro de 2002 é refém das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). Foi nomeada por Marie-Arlette Carlotti (Grupo Socialista) em nome de um grupo de eurodeputados.
Colômbia: para todos aqueles que lutam pela libertação dos reféns
Cerca de 80% dos reféns de todo o mundo - mais de 3.000 pessoas - encontram-se na Colômbia. São candidatas ao Prémio Sakharov 2006 todas as pessoas (individuais e associações) que lutam contra o sequestro e apoiam as vítimas e as suas famílias na Colômbia. A nomeação foi feita por Mónica Frassoni e Daniel Cohn-Bendit (Grupo dos Verdes/Aliança Livre Europeia) e apoiada por José Salafranca e Fernando Férnandez Martín (Grupo do Partido Popular Europeu e dos Democratas Europeus), por Frédérique Ries (Grupo da Aliança dos Democratas e Liberais) e outros.
O Projecto Fulda-Mosocho do Prof. Muthgard Hinkelmann-Toewe
Este projecto tem por objectivo erradicar a mutilação genital feminina (MGF) na região queniana de Mosocho, bem como melhorar as condições de vida das suas mulheres. Entre 2002 e 2005 a taxa de MGF na região diminuiu de 98% para 66%. Foi nomeado por Alexander Álvaro (Grupo da Aliança dos Democratas e Liberais) em nome de um grupo de eurodeputados.
Vladimir Kozlov
Activista dos direitos humanos e das minorias, líder da oposição étnica Mari contra a russificação intensiva do regime da República de Mari El (divisão federal da Federação Russa), escritor e jornalista, Vladimir Kozlov luta pela liberdade de expressão. O dialecto Mari pertence ao grupo linguístico fino-úgrico. Foi nomeado por Toomas Ilves (Grupo Socialista) em nome de um grupo de eurodeputados.
Bispo Erwin Kräutler
Bispo católico australiano missionário no Brasil, onde luta pelos direitos das minorias indígenas e pela preservação da floresta tropical no Brasil e em toda a região amazónica. Foi nomeado por Herbert Bösch (Grupo Socialista) em nome de um grupo de eurodeputados.
Somaly Mam
Cambojana defensora dos direitos humanos, luta contra a prostituição infantil e a escravidão sexual das mulheres e crianças no Cambodja e no Sudeste Asiático. Fundou a associação AFESIP ("Agir pour les femmes en situation précaire"), que visa reintegrar as vítimas do tráfico sexual na sociedade. Foi nomeada por Jules Maaten (Grupo da Aliança dos Democratas e Liberais).
Alexander Milinkevich
Líder da oposição na Bielorússia e ex-candidato presidencial contra o Presidente Alexander Lukashenko, luta por um futuro democrático para o seu país. Foi nomeado por Jacek Saryusz-Wolski (Grupo do Partido Popular Europeu e dos Democratas Europeus) e por Brian Crowley (Grupo União para a Europa das Nações).
Ghassan Tueni
Jornalista e diplomata libanês apoiante entusiasta da identidade árabe. Pai de Gebrane Tueni, o editor jornalístico libanês assassinado no ano passado. Foi nomeado para o prémio Sakharov em memória das seguintes personalidades libanesas assassinadas: Rafiq Hariri, Basil Lléhan, Samir Kassir, George Haoni and Gebrane Tueni. Nomeado por Béatrice Patrie e Véronique de Keyser (Grupo Socialista) e por Francis Wurtz (Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Nórdica Verde).
Mesfin Wolde-Mariam
Membro fundador do Conselho dos Direitos do Homem da Etiópia e defensor dos direitos humanos, luta contra a violência e a fome na Etiópia e por uma organização socio-política de cariz mais humanitário. Detido em Novembro de 2005, está actualmente a ser julgado e se for condenado incorre na pena capital. Foi nomeado por Ana Gomes (Grupo Socialista) em nome de um grupo de eurodeputados.
Mulheres de Preto – Belgrado
Esta organização sérvia pacifista, feminista e antimilitarista luta pela reconciliação entre as nações e etnias na ex-Jugoslávia e pelo reconhecimento dos crimes cometidos pelos militares e paramilitares sérvios durante o último conflito. Foi nomeada por Jelko Kacin (Grupo da Aliança dos Democratas e Liberais) em nome de um grupo de eurodeputados.

Prémio Sakharov 2006 para a Liberdade de Pensamento em todo o mundo.

Todos os anos o Parlamento Europeu atribui o Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento a indivíduos ou organizações que se destacaram na luta contra a opressão, a intolerância e a injustiça. O prémio é uma das formas utilizadas pelos eurodeputados para promover os direitos humanos e a democracia no mundo. Acompanhe, através do sítio Web do Parlamento Europeu, todas as etapas de atribuição do Prémio Sakharov 2006.

Criado em 1988, o Prémio Sakharov recompensa a defesa dos direitos humanos e das liberdades fundamentais, com particular destaque para a liberdade de expressão, a defesa dos direitos das minorias, o respeito pelo direito internacional e o desenvolvimento da democracia. Este prémio pode ser atribuído a qualquer pessoa, associação ou organização, independentemente da sua nacionalidade, domicílio ou sede social.

Processo de atribuição do prémio
A nomeação dos candidatos é efectuada pelos grupos políticos e pelos eurodeputados. A partir desta lista de candidatos, a Comissão dos Assuntos Externos e a Comissão do Desenvolvimento seleccionam três “finalistas”. Em seguida, cabe à Conferência de Presidentes escolher um vencedor. O prémio é formalmente entregue pelo Presidente do Parlamento no decurso da sessão plenária de Dezembro, na data mais próxima possível de 10 de Dezembro, dia em que se comemora a assinatura da Declaração Universal dos Direitos do Homem da ONU, em 1948. O vencedor do Prémio Sakharov recebe um certificado e um montante de 50.000 euros.

O papel do Parlamento Europeu na defesa dos direitos humanos
O Parlamento Europeu, a única instituição europeia directamente eleita pelos cidadãos da UE, tem um papel activo na defesa dos direitos humanos e da democracia. O Prémio Sakharov é apenas uma das suas acções neste campo. Existe uma Subcomissão dos Direitos do Homem exclusivamente dedicada aos direitos humanos. Todos os anos o Parlamento publica dois relatórios dedicados à situação dos direitos humanos: um relatório relativo a países que não fazem parte da EU e outro relatório relativo aos Estados-Membros. Estes relatórios identificam situações problemáticas e propõem soluções para melhorar essas situações.

Durante a quinta-feira das sessões plenárias que se realizam mensalmente, os eurodeputados debatem temas da actualidade relacionados com a violação dos direitos humanos e da democracia. O Parlamento já aprovou diversas resoluções condenando os governos de alguns países pela falta de respeito pelos direitos fundamentais. O Parlamento também pode decidir atribuir verbas do Orçamento da EU a projectos de defesa dos direitos humanos e da democracia.

A Poesia da Matemática (autor desconhecido)

Um Quociente apaixonou-se
Um dia
Doidamente
Por uma Incógnita.

Olhou-a com seu olhar inumerável
E viu-a, do Ápice à Base...
Uma Figura Ímpar;
Olhos rombóides, boca trapezóide,
Corpo ortogonal, seios esferóides.

Fez da sua
Uma vida
Paralela à dela.
Até que se encontraram
No Infinito.

"Quem és tu?" indagou ele
Com ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode chamar-me Hipotenusa."

E de falarem descobriram que eram
O que, em aritmética, corresponde
A alma irmãs
Primos-entre-si.

E assim se amaram
Ao quadrado da velocidade da luz.
Numa sexta potenciação
Traçando
Ao sabor do momento
E da paixão
Rectas, curvas, círculos e linhas sinusoidais.

Escandalizaram os ortodoxos
das fórmulas euclidianas
E os exegetas do Universo Finito.

Romperam convenções newtonianas
e pitagóricas.
E, enfim, resolveram casar-se.
Constituir um lar.
Mais que um lar.
Uma Perpendicular.

Convidaram para padrinhos
O Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e
diagramas para o futuro
Sonhando com uma felicidade
Integral
E diferencial.

E casaram-se e tiveram
uma secante e três cones
Muito engraçadinhos.
E foram felizes
Até àquele dia
Em que tudo, afinal,
se torna monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum...
Frequentador de Círculos Concêntricos.
Viciosos.

Ofereceu-lhe, a ela,
Uma Grandeza Absoluta,
E reduziu-a a um Denominador Comum.

Ele, Quociente, percebeu
Que com ela não formava mais Um Todo.
Uma Unidade.
Era o Triângulo,
chamado amoroso.
E desse problema ela era a fracção
Mais ordinária.

Mas foi então que Einstein descobriu a
Relatividade.
E tudo que era expúrio passou a ser
Moralidade

Como aliás, em qualquer Sociedade.