O OUTRO LADO DA MOEDA!!!

1.30.2007

O neto do chefe da Carbonária agora em sintonia com o que se diz herdeiro do trono!!!

Manuel Alegre, um dos chefes da Carbonária, certamente nunca imaginou que o seu neto homónimo haveria de fazer rasgados elogios ao que se diz herdeiro do trono português quase um século após a proclamação da República.
Aconteceu ao princípio da noite de ontem, na sessão de lançamento do livro "D. Duarte e a Democracia - Uma Biografia Portuguesa", de Mendo Castro Henriques, que atraiu a um centro comercial lisboeta, ao Chiado, cerca de 300 pessoas apostadas na restauração do trono.
Manuel Alegre, "republicano assumido" (deverá se tornar esta afirmação entre muitas aspas), destoava da pequena multidão de monárquicos que bebericava espumante Luís Pato e provava canapés enquanto apostava nos méritos do livro, ali à venda por 29,95 euros. Era uma sessão de lançamento, mas sem direito a dedicatórias. O cidadão Duarte Pio explicou porquê no anfiteatro do centro comercial, pequeno para acolher tantos interessados. "Hoje é o dia do aniversário da minha mulher. Não posso sacrificar o convívio familiar. Já assinei e datei muitos exemplares. Quem quiser uma dedicatória faça-me chegar o livro mais tarde, por intermédio da Real Associação de Lisboa", pediu o aquele que se diz Duque de Bragança (pois os titulos foram abolidos felizmente com a implatação da Républica). A cidadã Isabel de Herédia, sentada na primeira fila, sorriu. A assistência, compreensiva, fez o mesmo. Lá estava, também na primeira fila, o histórico dirigente monárquico Gonçalo Ribeiro Telles. Viam-se várias outras caras conhecidas - do presidente da Câmara de Sintra, Fernando Seara, ao ex-capitão de Abril Sanches Osório, do padre João Seabra ao ex-ministro social-democrata Carlos Macedo.
Mendo Castro Henriques, professor da Universidade Católica, considera que o seu biografado representa "a pátria com rosto humano". Elogios ao cidadão Duarte Pio sucedem-se nesta obra de 470 páginas (o que é um bom exemplo de lambe-botismo para quem o quiser pagar), composta não só pela componente biográfica mas também por um conjunto de depoimentos de personalidades como Mário Soares, Ribeiro Telles, o Dalai Lama e o ex-secretário-geral da ONU Butros-Ghali (mas se lermos com atenção os mesmos veremos que falam da pessoa não da sua pertença candidatura a qualquer coisa).
O cidadão Duarte Pio, em breves palavras, evitou o proselitismo. Mas Castro Henriques aludiu à necessidade de "estarmos preparados" para a eventual restauração da monarquia, "também quase ninguém previu a queda do muro de Berlim em 1989" (apesar de ser uma afirmação absurda, cá os espero, mas não para dar elogios ou comer bolinhos!!!).
O intercâmbio de elogios entre o homem que há dez meses quis sentar-se no Palácio de Belém e o herdeiro do trono português dominou a sessão. "Manuel Alegre é uma pessoa que muito admiro pela defesa intransigente dos valores da portugalidade", afirmou o cidadão Duarte Pio aos jornalistas antes de entrar no anfiteatro. Já na sala, Manuel Alegre considerou que "a Pátria está acima da República ou da Monarquia".
Lembrou o avô materno, o carbonário, e o paterno, que "costumava atirar aos pombos com D. Carlos" (felizmente que era um treino para outras coisas). Elogiou as "causas" do cidadão Duarte Pio, defensor dos "grandes temas da cidadania moderna e de um renovado conceito de patriotismo". E declarou: "Eu, que sou republicano, partilho muitos dos valores defendidos por D. Duarte" (este reconhece mesmo que o homem tem um titulo nobiliárquico, que republicano interessante).
Porque é necessário "erguer Portugal acima dos interesses financeiros obscuros, contra o conformismo e o poder do dinheiro".
"Muito bem", bradaram de imediato várias vozes. O "republicano" (entre mesmo muitas aspas) acabou por receber da plateia monárquica a maior ovação da noite (será o próximo Conde de Coimbra!!!).
P.S. - Não resisti comentar esta noticia e mostrar o meu mais sincero repudio por alguém que vende os seus valores em nome da "Pátria" e de "Portugal" aqui se vê ao que o patriotismo leva.
VIVA A CARBONÁRIA!!!

I.V.G. - Panorama legal na Europa

Conheça em seguida o panorama legal da IVG na Europa, consultando um folheto informativo sobre o tema preparado pelos eurodeputados do PS:

IVG - Panorama legal na Europa

1.27.2007

O silêncio...

"O que mais preocupa não é o grito dos violentos, dos corruptos, dos desonestos, dos sem carácter, dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons".

Martin Luther King Jr.

1.23.2007

O meu pensamento para este Dia Mundial da Liberdade

Por uma Liberdade cada vez mais Livre...

Liberdade.'.Igualdade.'.Fraternidade.'.

Ressonância Schumann

A Ressonância Schumann dá-se no espaço entre a superfície da Terra e a ionosfera condutiva, que age como uma guia de ondas. As dimensões limitadas da Terra fazem com que esta guia de onda funcione como uma cavidade de ressonância para ondas electromagnéticas na banda ELF. A cavidade é naturalmente excitada pela energia dos raios. A frequência mais baixa (e a maior intensidade) da ressonância Schumann é na frequência aproximada de 7.83 Hz. Picos adicionais de ressonância são encontrados em 14, 20, 26, 33, 39 e 45 Hz.
Um artigo muito citado e pouco combatido do Teólogo Leonardo Boff, publicado no Jornal do Brasil em 05/03/2004, fala-nos da Ressonância Schumann que, segundo este, está a afectar a forma como percebemos o tempo. O mesmo artigo faz muito sucesso nos meios esotéricos e utiliza-se de elementos da ciência para passar uma certa credibilidade.

Vejamos:
Não só as pessoas mais idosas mas também as mais jovens têm a tendência ou passaram pela experiência de que tudo se está acelerar excessivamente. Ontem foi Carnaval, dentro de pouco será Páscoa, mais um pouco, Natal.

Esse sentimento é ilusório ou tem base real?

Procura dar-se uma explicação a este fenómeno através da Teoria da ressonância Schumann. Foi o físico alemão Winfried Otto Schumann que constatou, em 1952, que a Terra é cercada por um campo electromagnético poderoso que se forma entre o solo e a parte inferior da ionosfera a cerca de 100km acima de nós.

Esse campo possui uma ressonância (dai chamar-se ressonância Schumann), mais ou menos constante, na ordem das 7,83 pulsações por segundo e funciona como uma espécie de marca-passo, responsável pelo equilíbrio da biosfera que é uma condição comum a todas as formasde vida, ou seja esta verifica-se também em todos os vertebrados sendo que o nosso cérebro é dotados da mesma frequência de 7,83Hz (hertz).

Segundo a teoria de Leonardo Boff durante vários milhares de anos as batidas do coração da Terra tiveram essa frequência de pulsações e a vida desenrolava-se por causa desse facto em relativo equilíbrio ecológico. A mesma teoria defende que a partir dos anos 80, e de forma mais acentuada a partir dos anos 90, a frequência passou de 7,83 para 11 e para 13Hz por segundo, ou seja segundo o Teólogo citado o coração da Terra disparou, verificando-se coincidentemente desequilíbrios ecológicos, de entre algumas:
Perturbações climáticas;
Maior actividade vulcânica;
Crescimento de tensões e conflitos no Planeta Terra;
Aumento geral de comportamentos desviantes nas pessoas.

Devido à aceleração geral e segundo a mesma teoria, a o dia que tem 24 horas, na verdade, tem somente 16 horas, portanto, a percepção de que tudo se está a passar rápido demais não é ilusória, mas teria base real nesse transtorno da ressonância Schumann.

O texto contínua, mas a parte principal é essa acima. Seria verdade?

De facto, a Ressonância Schumann existe, mas ao contrário do que o texto diz, a ressonância não é constante em 7,8 Hz, na verdade poderíamos falar em "Ressonâncias Schumann" pois, embora 7,8 Hz seja a mais forte, existem oscilações de 8,14 e até 20 Hz nesta faixa.

Outro erro é dizer que houve uma mudança nas ondas a partir dos anos 80, não é verdade, pois ao longo dos anos, as frequências oscilam levemente (menos de 0,3 Hz) em torno da média devido à radiação de microondas do Sol, mas, como podemos ver aqui, não é nada que chame a atenção.

O único detalhe interessante é que a frequência está a chegar próximo a 8 Hz, e SE houver alguma relação entre o nosso cérebro e essa frequência (não há nada cientificamente provado, nem mesmo sugerido a esse respeito), isso significa que estaremos a sair da influência entorpecente das ondas Teta para um maior "despertar" das ondas Alfa.

Mas isso é apenas uma leitura esotérica, não científica, mas enfim, a Teoria referida é esotérica...

Ou seja essa coisa do tempo estar mais acelerado por conta das ondas Schumann é completamente ilusória, pois, se o fosse, o tempo percebido por nós estaria apenas 0,3 mais rápido, quando qualquer pessoa pode dizer que o tempo parece estar muito mais acelerado do que isso, embora o relógio continue a marcar as 24 horas.

Partilho por isso do ponto de vista de quem me enviou este excelente artigo que é que a percepção de aceleração tem a ver com a quantidade de informação que as pessoas recebem diariamente e da qual não têm noção, mas faz com que o tempo pareça, repito pareça, andar mais rápido, ou seja é preciso que as pessoas entendam que percepção de uma coisa não é a realidade dessa coisa.

O boato de que não podemos ter cd's gravados no carro é pura mentira.

Porque, quando a reprodução de um cd se enquadra no conceito de "cópia privada" e que, conforme é referido no art.º 81º, b) do Código dos Direitos de Autor e Direitos Conexos, não atinja a exploração normal da obra, esse tipo de cópia é consentido.

Ou seja, se vocês copiarem o cd para vocês próprios ou para um amigo e só tiverem uma ou duas cópias, seja no carro ou no bolso de trás, não há infracção.
Agora se tiverem 40.000 cópias, enfiadas num saco preto, com respectivas caixas e capas sacadas da net, como fazem as pessoas duvidosas...aí talvez já haja um ligeiro problema de "exploração anormal da obra".

Esse mail é pura treta, talvez lançado até por alguma editora, que se lembrou que se calhar assim as pessoas copiavam menos cd's e compravam os originais.

Atentem na Lei: Código dos Direitos de Autor e Direitos Conexos

Artigo 81.º
Outras utilizações
É consentida a reprodução:
a) Em exemplar único, para fins de interesses exclusivamente científico ou humanitário, de obras ainda não disponíveis no comércio ou de obtenção impossível, pelo tempo necessário à sua utilização;
b) Para uso exclusivamente privado, desde que não atinja a exploração normal da obra e não cause prejuízo injustificado dos interesses legítimos do autor, não podendo ser utilizada para quaisquer fins de comunicação pública ou comercialização.

1.11.2007

AINDA A MISSA DE ACÇAO DE GRAÇAS DA DGCI

Em artigo de grande lucidez, Eduardo Moura analisa o gesto «beato» do Director-Geral dos Impostos, Paulo Macedo, chamando designadamente a atenção para os seguintes aspectos:

(…) “Visto por dentro da convicção religiosa, como é normal numa Missa de Acção de Graças, tudo se passa de acordo com os princípios e os credos próprios da Igreja Católica e ninguém que partilhe estas convicções se sente estranha ao agradecer e encomendar ao divino a sua sorte passada e sua futura fortuna. Nem tão pouco estranha que Deus tenha tanta coisa a ver com a cobrança de impostos, com a eficácia da máquina fiscal, com o cumprimento da lei de um Estado, que tanta outra gente julga ser laico.

Mas exactamente por isto ser assim, por Paulo Macedo ser católico e obviamente uma pessoa inteligente e reflectida, por ter consciência do lugar que ocupa no Estado, por saber o Estado em que vive, por saber que a DGCI nunca encomendou missas, por saber que uma missa une os católicos da DGCI mas afasta todos os outros funcionários, por saber que a despenalização do aborto está a um mês de distância, por saber que o seu salário está novamente de volta à imprensa, o facto é que Paulo Macedo tem consciência de que está a esticar a corda e não está a praticar um acto de gestão.

Porque se fosse um acto de gestão, apesar de ser uma mau acto de gestão, então seria obrigatório o director-geral encomendar missas em muitos outros credos, pelo menos tantos quantos os que são reconhecidos pelo Estado e passíveis de ensino nas escolas públicas.
Mas como é evidente, um acto de gestão que separa os trabalhadores por credos religiosos é uma acto de cisão irracional, prejudicial à eficácia dos grupos de trabalho, ilógico do ponto de vista motivacional, imprudentemente segregador.” (…) [sublinhados da R&L]

Revolta na Bounty

A estratégia manhosa do dr. Macedo para impor ao Governo a sua recondução com um vencimento superior ao de George Bush está a gerar um ambiente de revolta junto de muitos funcionários do fisco, para não referir toda a Função Pública e muitos dos seus dirigentes, que sendo tão competentes que o dr. Macedo, não contam com a retaguarda dos interesses do Millennium e da Opus Dei.

Depois de se apropriar do trabalho alheio, do impacto do aumento das taxas do IVA e das receitas resultantes da reforma dos impostos sobre o património, ao dr. Macdo já não bastam as forças terrenas e recorreu ao poder do divino, convencido que também aí se poderia apropriar de algum milagre alheio. Entretanto, já está a preparar para o próximo dia 26 uma grande encenação nacional, trazendo à capital e à custa do erário público todos as chefias dos serviços de finanças.

O resultado de todas estas manobras é a revolta generalizada, uma situação que começa a parecer a revolta na Bounty. A direcção distrital de Lisboa do Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos já tomou posição contra as patéticas entrevistas dos seus presidentes e pelo menos a direcção da distrital de Évora já tomou posição em apoio desse comunicado. Afinal onde está o apoio dos trabalhadores ao senhor do Millennium?

A luta desesperada do dr. Macedo está a ter efeitos mais perversos do que ele imaginou, gerando uma situação da qual só pode resultar a sua demissão, pois nenhum governo pode estar sujeito à suas manobras e assistir tranquilamente ao desmoronar da máquina fiscal.
Se o dr. Macedo ganharia tanto no Millennium com o que ganha na DGCI porque se assiste a tantas movimentações de alguns sectores em defesa do dr. Macedo? O director-geral dos Impostos, que aparenta ter um QI mediano pois só isso justifica a encenação religiosa que promoveu, está longe de ser um Nobel da gestão e todas estas movimentações são suficientes para nos fazer meditar um pouco.

Que forças e interesses estarão por detrás de toda esta procissão?

Comunicado da direcção distrital de Lisboa do STI:

«Comunicado n.º 1/2007

«…é um erro o Governo mudar o director-geral só por uma questão financeira.»
(Manuel Alberto in Correio da Manhã de 07.01.2007)

Tendo em conta que o último Conselho Distrital de Lisboa, realizado em 29.11.2006 foi aprovado por unanimidade um protesto contra as habituais declarações da D.N. do STI, na pessoa do seu presidente, bajuladoras e laudatórias do Director-Geral dos Impostos, Dr. Paulo Macedo, a vários meios de comunicação social.

E sendo que no Conselho Geral do STI, que decorreu em 11 e 15 de Dezembro de 1006, esta Direcção Distrital alertou aquela D.N. da inconveniência para o sindicato, e para o desagrado junto dos funcionários e dos sócios, de tais declarações. Inconveniência porque nem tudo corre bem na DGCI.

De facto basta referir o exagerado tempo de espera dos contribuintes nos Serviços de Finanças, bem como as condições de conforto em que essa espera é efectuada, para facilmente concluirmos que a carência de recursos humanos é em visível, como aliás o demonstra uma leitura atenta do último Balanço Social.

A verdade é que o notório trabalho na área do património e das execuções fiscais, deve-se essencialmente ao empenho e carolice de muitos trabalhadores, que a implementaram e que estão a levara cabo um considerável desenvolvimento nessas áreas, com a introdução das respectivas aplicações informáticas, concebidas pela DGITA, que há muito eram reclamadas pelos Trabalhadores.

O sucesso mediático do Director-Geral deve-se essencialmente à notável capacidade para cavalgar esta onda que tem sido laboriosamente semeada pelos muitos funcionários da Administração Fiscal, junto da comunicação social, que por sua vez se encarrega (sabe-se lá porquê) de apresentá-lo como um salvador, um D. Sebastião.

Porque sempre entendemos que o STI existiu e existe para defender os interesses dos Trabalhadores dos Impostos, a Direcção Distrital de Lisboa, inequivocamente, demarca-se das habituais declarações da actual D.N, alertando esta, mais uma vez, para a conveniência de doravante se abster de proferir declarações de igual teor, a fim de não minar a independência e a unidade dos trabalhadores dos impostos.

Votos de um bom ano de 2007.

Saudações sindicais

A Direcção Distrital de Lisboa do STI»

In: http://jumento.blogspot.com/2007/01/revolta-da-bounty.html

1.02.2007

Sobre a separação entre a Igreja e o Estado

A separação entre a Igreja e o Estado é um dos princípios basilares do Estado brasileiro e, na verdade, do moderno Estado de Direito. Embora em um primeiro instante pareça que este se refere apenas à impossibilidade de o Estado não professar nenhuma fé, ele tem outras aplicações.

A separação entre Igreja e Estado não é apenas um princípio negativo, que veda ao Estado a profissão de fé ou à Igreja de intrometer-se nos assuntos estatais; na verdade, o que ele consagra é a laicidade nas questões públicas, no sentido de que não se faz – não se deve fazer – referência a religiões ao tratar-se das questões colectivas. Se uma pessoa acredita no deus católico, outra em Ala, outra não acredita em nenhum e outra prefere Lenine, essas questões são de ordem pessoal e privada; embora em suas casas e em suas relações pessoais possam fazer proselitismo, ao tratarem dos assuntos colectivos apenas uma realidade é aceitável: a sociedade como um todo, em diferentes níveis (governos municipais, estaduais, nacionais ou a própria Humanidade).

Isso tem uma consequência clara: o Estado não pode beneficiar as diversas fés, sejam elas do carácter que forem. Não importa se os governantes são católicos, protestantes, budistas, ateus, agnósticos, comunistas, livre-pensadores; também não importa se os governantes querem satisfazer uma demanda de um grupo específico (por mais numeroso que ele possa ser). Assim, por exemplo, o apoio do Estado a festivais religiosos é errado e, na verdade, é ilegal, na medida em que, no Brasil, é inconstitucional.

No Paraná, por exemplo, o governo do estado apoiou um festival de música cristã – o que é uma aberração do ponto de vista de um Estado efectivamente republicano –, mas, agora que estamos no final do ano, os apoios oficiais às comemorações cristãs do natal multiplicar-se-ão. Onde fica o princípio republicano, conquistado há 116 anos no Brasil, da separação entre a Igreja e o Estado?

É necessário notar que a laicidade pública é a base da liberdade de pensamento e de expressão e do pluralismo social e político nas sociedades ocidentais. Assim, ao contrário de parecer que o afastamento das crenças da esfera pública diminui a importância da religião na sociedade, na verdade ela é a própria garantia de que as religiões continuarão existindo.

Como? Ora, um governo que professa uma fé, se for um governo “esclarecido”, poderá, talvez, permitir a expressão das outras crenças; todavia, governos esclarecidos são mais raros do que gostaríamos e a opressão humilhante é a regra. Exemplos recentes disso não faltam: o comunismo na antiga União Soviética, o nazismo, os regimes baathista de Saddam Hussein, dos aiatolás no Irã e o dos talibãs no Afeganistão.

Além de ser opressivo (o que, por si só, é pernicioso), um governo que professa uma fé impede que a sociedade organize-se e que viva autonomamente; para usar uma terminologia que se tem consagrado, um Estado que professa uma fé impede a manifestação da sociedade civil.

Um pouco de história nunca faz mal.

A separação entre Igreja e Estado surgiu ao longo da Idade Média como uma forma de ambos os poderes (Igreja e Estado) se policiarem mutuamente (tendo um resultado de fiscalização muito mais eficaz que a separação entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário), mas a retracção da religião à esfera privada surgiu a partir do século XVII, quando as violentas guerras de religião na Europa transformaram-se em guerras civis, que não raras vezes separavam até mesmo famílias.

No Brasil a separação entre a Igreja e o Estado, apesar de ter-se realizado logo no início da república, em 1890, nunca se completou e, na verdade, ela tem passado por uma regressão “lenta, gradual e segura”, de modo geral misturando hipocrisia, demagogia e (má-)fé.

Senão, vejamos: Getúlio Vargas instituiu os feriados públicos religiosos; o Marechal Castello Branco proclamou N. Sra. Aparecida “padroeira” e generalíssima do Brasil”; José Sarney incluiu o “deus seja louvado” em todas as cédulas (mantido e negritado pelo “ateu” Fernando Henrique Cardoso); o “Preâmbulo” da Constituição de 1988 fala em deus (apesar da proibição indicada no Art. 19 do mesmo documento) e quase todos os tribunais e órgãos públicos brasileiros ostentam crucifixos (que aumentam de tamanho à medida que aumenta a importância da corte ou do órgão).

Além dos factos esparsos indicados anteriormente, no Brasil recente – digamos, nos últimos 15 anos –, as manifestações de carácter religioso têm aumentado. Se elas fossem exclusivamente da sociedade civil e no âmbito religioso, não haveria nada obstar; entretanto, o que se nota é que, cada vez mais, a fé é um valor público. Por exemplo: no interior do Paraná, há alguns anos, um Prefeito tomou por mote de sua gestão o dístico “Fé e trabalho”! Todavia, não nos esqueçamos de grupos religiosos ligados a canais de televisão e a partidos políticos, no Brasil de um modo geral e no Rio de Janeiro em particular (nas últimas semanas a imprensa tem divulgado a constituição de um novo Partido Republicano, que, apesar do nome, será constituído em sua maior parte por grupos religiosos que tornam ou querem tornam a religião um tema e um valor político).
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Um outro exemplo, a partir de uma experiência pessoal: na semana passada recebi um documento de uma comissão interna da Universidade Federal do Paraná, onde trabalho; esse documento consistia em uma rápida prestação de contas da comissão, que está prestes a ser substituída por outra. Eis o que, a certa altura se escreve no documento: “Os membros da actual e última gestão agradecem em primeiro lugar a Deus que nos orientou no caminho certo”. À parte o fato de que não se sabe o que significa precisamente esse “caminho certo”, essa declaração ilustra bem o grau de decomposição do espírito republicano no Brasil. Uma comissão interna de um órgão público pura e simplesmente não pode fazer uma declaração desse tipo; se se aceita algo assim, é porque se julga legítimo que a fé seja um valor cívico – o que não é.

Fala-se muito em cidadania e direitos em nosso país e, recentemente, a palavra “republicano” voltou ao vocabulário político corrente. Pelo que vimos, essas palavras não significam muito, face aos acontecimentos quotidianos. Se queremos que este país (e a Humanidade como um todo) melhore, é bom começarmos a levar a sério o que essas palavras querem dizer – e completemos, respeitemos e aprendamos o que significa um princípio democrático consagrado faz mais de um século.

Por Gustavo Biscaia de Lacerda que é Mestre em Sociologia Política pela Universidade Federal do Paraná e sociólogo da mesma instituição.