O OUTRO LADO DA MOEDA!!!

2.08.2007

O padre de Viseu que vota SIM!!!

Um padre de Viseu disse hoje que votará SIM no referendo de domingo, porque entende que deve acabar a humilhação das mulheres em tribunal e o "verdadeiro infanticídio" a que obriga a lei actual.
Citado pela agência Lusa, o padre Manuel Costa Pinto, de 79 anos, defende que a mulher deve ser libertada "dessa coisa vergonhosa que é o julgamento e os exames à sua vagina" e também do castigo da prisão e deu o exemplo de Jesus Cristo, que perdoou a adúltera.
"Jesus disse "aquele que estiver sem pecado que atire a primeira pedra" e ficou apenas ele e a mulher. Então acrescentou: "eu não te condeno, vai, e não tornes a pecar". O nosso Magistério, papas e bispos, não podem esquecer isto", frisou.
Por outro lado, o padre afirmou não compreender como "pessoas sensatas" podem alhear-se do "verdadeiro infanticídio" que muitas mulheres cometem depois do nascimento dos filhos.
"Mulheres com medo, que não têm dinheiro para ir para o aborto clandestino e muito menos para o estrangeiro, disfarçam a gravidez até ao parto. Vão para uma casa de banho, sai uma criança, aí sim, já uma criança, metem-na num saco e deitam-na ao caixote do lixo, ao esgoto ou até no campo", lamentou.
Na sua opinião, estas situações só acontecem "por causa da lei que existe actualmente", sendo que, nestes casos, já considera existir um crime, porque se o bebé nasceu com vida "é uma pessoa com personalidade jurídica".
"Eu voto "Sim" sem qualquer dificuldade. Não tomo esta atitude de ânimo leve, sei a minha responsabilidade como católico e como padre", frisou, acrescentando não ter receio de ser excomungado.

"Já estive suspenso 17 anos por escrever um livro sobre o celibato a defender que os padres se deviam casar. Hoje já toda a gente diz isso, mas naquele tempo (início da década de 70) fui só eu", contou.
Considera que o Evangelho, com o exemplo de Jesus Cristo, bastaria para justificar a sua opinião, mas, no entanto, preferiu também apontar as posições tomadas ao longo dos tempos para sustentar que, ao despenalizar- se a interrupção voluntária da gravidez até às dez semanas, não estará sequer a falar-se de um "ser humano".
Aludiu ao livro Bioética, que levanta a dúvida sobre o zigoto "ser ou não o adulto em que o embrião se desenvolve", e também Deus, a Medicina e o Embrião, de René Frydman, sobre a ideia do "filho-projecto" .
Esta ideia encontrou-a também no campo católico, numa obra do jesuíta espanhol Carlos Domingues Morano, que "diz que a geração de um filho tem que ter o desejo dos pais, que só com o espermatozóide e o óvulo não há filho", contou. O padre Manuel Costa Pinto garantiu que não há unanimidade mesmo no modo como o Magistério e os teólogos católicos abordam este problema.
Citou São Gregório de Nisse, para quem "não se pode chamar homem ao embrião, dado o seu estado imperfeito; na verdade, nesse estado não passa de uma coisa virtual que, após o devido aperfeiçoamento, poderá atingir a existência do homem; porém, enquanto se encontra nesse estado de inacabado, é qualquer outra coisa".
Também São Jerónimo considerava que "o sémen toma forma, gradualmente, no útero; não há homicídio, enquanto os diversos elementos não forem visíveis e dotados dos seus membros".
P.S. – Para provar que não é só uma questão de fé!!! Mas também se comprova que dentro do dogmatismo não há muita liberdade para pensar diferente!!! Quem diria um padre inteligente, é raro encontrar nos dias que correm!!!

Carminho & Sandra

Actualmente é assim em Portugal:
Carminho senta - se nos bancos almofadados do BMW da mãe. Chove lá fora .Encosta o nariz ao vidro para disfarçar duas enormes lágrimas que lhe rolam pela face. A mãe conduz o carro e aperta-lhe ternamente a mão. Há muito trânsito na Lapa ao fim da tarde. A mãe tem um olhar triste e vago mas aperta com força a mão da filha de 18 anos. Estão juntas. A caminho de Espanha.

(Mais a baixo na cidade)
Sandra senta- se no banco côr-de-laranja do autocarro 22 que sai de Alcântara. Chove lá fora. Encosta o nariz ao vidro para disfarçar duas enormes lágrimas que lhe rolam pela face. A mãe está sentada ao lado dela. Encosta o guarda - chuva aos pés gelados e aperta - lhe ternamente a mão. Há muito trânsito em Alcântara ao fim da tarde. A mãe tem um olhar triste e vago mas aperta com força a mão da filha de 18 anos. Estão juntas. A caminho de casa de Uma Senhora.
O BMW e o autocarro 22 cruzam - se a subir a Avenida Infante Santo.
Carminho despe-se a tremer sem nunca conseguir estancar o choro. Veste uma bata verde. Deita-se numa marquesa. É atendida por uma médica que lhe entoa palavras doces ao ouvido, enquanto lhe afaga o cabelo. Carminho sente - se a adormecer depois de respirar mais fundo o cheiro que a máscara exala. Chora enquanto dorme.
Sandra não se despe e treme muito sem conseguir estancar o choro. Nervosa , brinca com as tranças que a mãe lhe fez de manhã na tentativa de lhe recuperar a infância. A Senhora chega. A mãe entrega um envelope à Senhora. A Senhora abre-o e resmunga qualquer coisa. É altura de beber um liquido verde de sabor muito ácido. O copo está sujo, pensa Sandra. Sente-se doente e sabe que vai adormecer. Chora enquanto dorme.
Carminho acorda do seu sono induzido. Tem a mãe e a médica ao seu lado. Não sente dores no corpo mas as lágrimas não param de lhe correr cara abaixo. Sai da clínica de rosto destapado. Sabe -lhe bem o ar fresco da manhã. É tempo de regressar a casa. Quando a placa da União Europeia surge na estrada a dizer PORTUGAL, Carminho chora convulsivamente.
Sandra não acorda. E não acorda. E não acorda. A mãe geme baixinho desesperada ao seu lado. Pede à Senhora para chamar uma ambulância. A Senhora não deixa, ponha-se daqui para fora com a miúda, há uma cabine lá em baixo, livre-se de dizer a alguém que eu existo. A mãe arrasta a Sandra inanimada escada a baixo. Um vizinho cansado, chama o 112 e a polícia.
Sandra acorda no quarto 122 dias depois. As lágrimas cara abaixo. Não poderás ter mais filhos, Sandra, disse-lhe uma médica, emocionada. Sai do hospital de cara tapada, coberta por um lenço. Não sente o ar fresco da manhã. No bolso junto ao útero magoado, a intimação para se apresentar a um tribunal do seu país: Portugal.
Eu voto sim . Pela Sandra e pela Carminho. Pelas suas mães e avós. Por mim.
Rita Ferro Rodrigues
P.S. – A diferença entre os dois textos, este artigo e a campanha dada ás crianças, é clara na primeira temos relatos ficcionados de um ser que não está provado ser inteligente e temos crianças usadas como veiculo de campanha neste temos a opinião de uma pessoa adulta e não anónima que assina o texto que escreve e utiliza casos que poderiam ser reais.

2.01.2007

"Mãe, como foste capaz de me matar?"

"Um dia quando estava feliz a brincar no mais íntimo das tuas entranhas senti algo de muito estranho, que não sabia como explicar: algo que me fez estremecer. Senti que me tiravam a vida!... Uma faca surpreendeu-me quando eu brincava feliz e quando só desejava nascer para te amar (...) Mãe, como foste capaz de me matar?..." Este é apenas um excerto de uma carta que foi colocada nas mochilas de crianças de dois infantários de Setúbal, o Aquário e a Nuvem, da rede de instituições particulares de solidariedade social (IPSS), e por isso comparticipados pelo Estado, no caso dirigidos pelo Centro Paroquial de Nossa Senhora da Anunciada. A missiva de apelo ao "não" ao aborto, sem estar assinada, motivou a indignação de alguns pais, que protestaram junto das educadoras. E ontem já circulava na Internet em vários blogues.

Contactados os dois estabelecimentos, o DN foi remetido para o padre Vieira, que dirige os infantários. Tentámos contactá-lo para o Centro Paroquial repetidas vezes sem sucesso. O padre Lino Maia, da Confederação Nacional de Instituições de Solidariedade (CNIS), mostrou-se surpreendido com a carta. Tanto mais que, sublinhou, a CNIS não tem posição oficial sobre o referendo de 11 de Fevereiro. "O nosso discurso desde Novembro é de grande abertura às várias opções." O padre Lino Maia não quis comentar o teor da missiva, mas frisou que se "trata de uma iniciativa localizada".

Um dos pais de uma criança do infantário, que não se quis identificar, considerou "inaceitável" ao DN que o seu filho "tenha sido arregimentado como 'voluntário' numa campanha tão violenta".

A carta de um pretenso feto à mãe que decidiu interromper a gravidez é, de facto, muito violenta. "Diz-me Mãe: quem poderia entrar cruelmente dentro de ti e chegar onde, com tanta segurança eu me encontrava, a fim de me matar? (...) Como poderia eu imaginar que uma mãe fosse capaz de matar o seu filho quando, em casa, não maltratam nem o gato, nem a televisão?"

E continua. "Agora, Mamã, sei tudo. Estou aqui no outro mundo e um companheiro que teve a mesma sorte do que eu, disse-me que sim, que foste tu... Disse-me que há mães que matam os filhos antes de nascerem. Mãe, como foste capaz de me matar? (...) Por acaso pensavas comprar uma máquina de lavar ou um aspirador, com os gastos que talvez eu te iria causar?"

A carta remata com a ameaça do Juízo Final e com um apelo. "Ele me disse que terás de Lhe dar contas do que fizeste! (...) Mamã, antes de me despedir de ti, peço-te um favor, que esta carta que te escrevo, a dês a ler às tuas amigas e futuras mães, para que não cometam o monstruoso crime que tu cometeste."

O Bernardo (nome fictício), de dois anos e meio, que frequenta um dos infantários onde a carta foi distribuída, deu-a à mãe, dizendo-lhe: "Tenho uma prenda para ti!"

P.S. – O teor degradante e o completo absurdo da campanha feita como foi referido nesta noticia faz-me pensar se o lado do "NÂO" tem o objectivo de hipotecar ainda mais qualquer possibilidade de o debate sair do âmbito do achincalhamento e da ofensa moral e condenatória das mulheres que o realizam e com isso levar com que as pessoas que votam "SIM" desta vez o façam de forma mobilizada...é que se o têm estão a conseguir...para além de que poderão hipotecar votos de indecisos que achem que isto não é uma campanha moral mas sim de consciência pessoal...