O OUTRO LADO DA MOEDA!!!

11.29.2006

"A Pátria está acima da República e da Monarquia."

Esta expressão utilizada no titulo deste post é uma das afirmações que balizou para além das referidas no texto a seguir, a apresentação por Manuel Alegre, do livro biográfico de Duarte Pio, cidadão que se julga acima de outros e que pelos vistos é reconhecido por pessoas que se dizem Republicanas como “chefe” da instituição monárquica:
"António Sérgio nunca deixou de criticar a mentalidade dogmática e aquilo a que chamava “o espírito de seita, de bairro e de capelinha.” Considerava o sectarismo uma doença nacional. Por isso alguns terão ficado surpreendidos com o facto de um republicano e homem de esquerda como eu vir apresentar esta biografia de D. Duarte. Devo dizer que o faço com gosto. Em primeiro lugar pela consideração e respeito que me merece D. Duarte, não só como chefe da instituição real, mas, para utilizar uma feliz expressão de Mendo Castro Henriques, como “intérprete activo de Portugal.” E ainda porque se trata de uma boa ocasião para ultrapassar preconceitos e reflectir sobre alguns temas nacionais.”"

Confirma-se assim o que venho a defender em vários posts deste Blog, a noção de "Pátria" hipoteca até as liberdades individuais pois um sistema monárquico é um sistema ditatorial, não irei justificar porque o considero, o obvio não se justifica, apenas existe. Pelos vistos faz-se o mesmo utilizando argumentos de anti-sectarismo, como se a noção de “pátria” adequada ao nacionalismo em si mesmo (como é o caso) não fosse uma das mais sectárias noções existentes, aquela que por excelência cria em si não uma visão nobre da existência do outro e da diferença mas que serve para criar diferenças e "levantar" muros de intolerância e fanatismo.

António Sérgio defendia uma filosofia com profundas implicações humanas e sociais, regendo o comportamento e a acção de cada um no todo social de que faz parte e que a procura dos meios para a realização da sociedade ideal deveria assim ter em conta dois princípios inalienáveis, sendo o primeiro a necessidade de considerar a natureza humana como um fim em si própria e como valor absoluto, e o segundo a necessidade de conciliar os actos que se praticam para a libertação dos homens com a liberdade de cada ser humano: "caminhe-se para a liberdade através da liberdade"! Este em coerência com o seu sistema de pensamento, defendeu que a democracia, ao invés de ser uma coisa é uma actividade que se identifica com o processo da cultura, um dinamismo de essência espiritual, um fim que radica na autoridade crescente de cada um sobre si próprio, acabando por tornar o estado desnecessário, pois substituído pelo império de cada alma livre. Assim, a vontade geral que a democracia invoca é "a vontade de qualquer indivíduo, sempre que este, para proceder, toma uma atitude de pensar objectiva, racional, geral", subindo do indivíduo à pessoa, do plano biológico ao plano do espírito, fazendo o homem coincidir com o cidadão. Utilizá-lo para justificar a defesa do nacionalismo patriota é em si um abuso que alguém pouco inteligente ou com manifesta má fé faz.

Aliás o argumentario patriota nacionalista inclui outras expressões que são bastamente utilizadas neste discurso de Manuel Alegre: "E este é um momento em que são precisos patriotas que saibam renovar e afirmar os valores permanentes de Portugal e dar ao conceito de Pátria um sentido de modernidade e de futuro. Ou como queria Fernando Pessoa, “cumprir Portugal”, sabendo que o que Portugal tem de mais moderno e permanente é ser “o futuro do passado”."

Segundo este deve-se dar á Pátria um sentido de Futuro quando sabemos que o Futuro será entre patriotas nacionalistas e patriotas universalistas ou cidadãos terrenos e não afectos a espaços geográficos, será obvio que se terão que organizar politicamente de forma geográfica, mas esta organização deve ser um meio e não um fim em si mesmo, disso não tenho duvidas.

Aliás será que quando Fernando Pessoa falava de um império cultural, não saia da noção de um Império físico que apenas se cingia a fronteiras físicas? Um poeta que viveu na Africa do Sul e que escreveu na língua de Shakespeare óptimos poemas era em si um exemplo de universalismo, e não como diversos nacionalistas gostam de proclamar, apenas e só alguém que pensava por e em Portugal.

Os campos definem-se e se eu tivesse duvidas diria que apenas começa a ver-se de que tarimba são feitos os alguns que se dizem republicanos, que pelos vistos hipotecam os seus valores por noções egoístas e nacionalistas.

4 Comments:

Blogger xatoo said...

fiquei grato por ver aqui o banner e o link para "o embuste chamado Cavaco Silva"
Contudo o link para o blogue www.xatoo.blogspot.com não consta.
Como me parece que o GeoSapiens tem uma visão acertada sobre a problemática actual fico curioso. (Áparte a liberdade de opção) com o que é que não concordas no "xatoo" e/ou porque o achas irrelevante?

29/11/06 13:39  
Blogger augustoM said...

O mal é deturparem o sentido da palavra Pátria, que na minha opinião nada tem a haver com sistemas políticos, monarquia ou república ou outro que queiram inventar. Pátria deverá representar a comunhão cultural de um povo, o que o torna diferente dos outros, das outras pátrias. Não o aspecto físico que a pode consubstanciar, pois os povos conquistados nunca encaram os conquistadores como seus compatriotas, vejamos o nosso caso em África, tanta terra e tão pouca Pátria. Pátria é um elo de união e não de xenofobismo, pois podemos unir sem excluir, como a exclusão não é o fim da união. Sou patriota porque prezo a minha cultura, sem refutar as outras, muito pelo contrário, aceito-as na diferença como gosto que aceitem a minha. Utilizar a Pátria para outros fins, é ser um mau patriota.
Um abraço. Augusto

29/11/06 22:14  
Anonymous Anónimo said...

veja o nosso

http://blog-de-causas.blogspot.com/

5/12/06 01:52  
Anonymous Anónimo said...

Como a mensagem anterior é um pouco sucinta acrescento:

"A questão não é, de todo, nova: Oliveira Martins e António Sérgio, entre outros pensadores socialistas portugueses, cada um à sua maneira e no quadro dos respectivos tempos históricos, culturais e políticos, defenderam que, em Portugal, aquilo que estaria verdadeiramente em causa não seria o seu «regime» – entenda-se: a questão monarquia/república – mas sim o carácter mais ou menos democrático (ou anti-democrático), mais ou menos socialista (ou anti-socialista) das políticas promovidas pelos seus vários governos."

5/12/06 01:54  

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