8.31.2006
A Guerra e os Beligerantes
A Guerra em si é um acto estúpido, não serei pacifista ao ponto de dizer que é desnecessário, pois se os "países aliados" tivessem reagido quando a ameaça Hitler e o seu regime ocuparam ilegitimamente os Sudetas, ter-se-ia evitado muito sangue pois nessa altura a Alemanha Nazi ficaria confinada ao seu campo e os seus aliados ainda não teriam a vantagem de serem defrontados com tropas de ataque regular e bem treinadas para uma guerra ofensiva, mas péssimas quando na defensiva, por isso a Guerra é muitas vezes inevitável, mas não deixa de ser um acto estúpido que provoca sofrimento.
Para haver Guerra tem que haver duas partes neste caso temos um Estado que é Israel que foi uma ideia de grupos sionistas (defensores do regresso á terra de Síon) projecto esse concretizado graças ao infortúnio de seis milhões de vidas da sua área religiosa, sendo que grupos resistentes judeus forçaram a implantação e criação de um estado nacional mais pela luta destes grupos do que porque o Reino Unido e a França o queriam, diante deste facto consumado e fortemente apoiados pela diáspora Judia dos U.S.A. (e doutras partes do mundo) e pela União Soviética e os países do COMECON interessados em despachar para lá os milhões de Judeus que tinham nos seus territórios (cidadãos que se recusavam obstinadamente a viver em ditadura e a perder as suas características sociais, culturais e religiosas). Aceitou-se a partir daí a ocupação dessas terras e a implantação de um estado primeiro ilegal (a quando da declaração de Ben Gurion) depois legalmente aceite internacionalmente e reconhecido, por muito que custe a muitos, pela esmagadora maioria dos estados da então e da actual Comunidade Internacional.
Do outro lado temos o Hizbollah ("o partido de Deus" ou em árabe: حزب الله), este movimento era uma federação de várias pequenas organizações radicais Xiias Duodecimanicas criadas no contexto da Guerra Civil Libanesa de 1982 e depois da Israel ter invadido o sul do Líbano, sendo algumas criadas e apoiadas pelo Irão que também é Xiia Duodecimanico e outras pela Síria, cujo os governantes são Xiias apesar de a maioria da população ser Sunni (sendo os governantes sírios, “Xiias septimanicos fastos fatimidas” ou “alawitas” sendo uma minoria dentro da minoria Xiia dentro da Síria pois os Xiias sírios são Duodecimanicos na sua generalidade) mas que mais tarde alinharam no jogo iraniano pois ficaram sem aliados quando a União Soviética e o COMECON deixaram de existir e o regime do Iraque caiu (aliás os dois países, a Síria e o Iraque, tinham o partido Baath como governante que era em termos ideológicos um misto de autocracia comunista árabe, com valores morais religiosos islâmicos mas com forte preponderância laica em termos sociais) esse alinhamento também se deveu ao cessar fogo da Guerra dos Campos (que opôs o Partido Amal Xiia Duodecimanico financiado pela Síria, ás vezes apoiados pelas Milícias do Partido Socialista Progressista e o Hizbollah e as Milícias Palestinianas da O.L.P. ás vezes apoiadas pelas Milícias do Al-Murabitum a maior Milícia Sunita Libanesa da altura) e da Guerra Civil Libanesa em 1989. O Hizbollah tem como Secretário-Geral (temos que compreender que estes não têm eleições e que este titulo é honorifico e não o resultado de eleições internas) o Xeque Hassan Nasrallah e que é formado exclusivamente por libaneses Xiias Duodecimanicos sendo uma organização que reconhece o princípio do "welayet-al-faqih", ou seja, a primazia do guia da revolução iraniana sobre a comunidade xiita, esta teoria foi constituída a partir da interpretação feita pelo "ayatollah" Khomeni e retirada duma "surata" (versículo) do Alcorão intitulado "A Mesa Servida" (5:44), o mesmo sustenta a supremacia governativa dos clérigos, uma vez que estes, alegadamente dispõem do "conhecimento sagrado para adivinhar o significado oculto do Alacorão" conhecimento esse que lhe permite também "participar na revelação final da palavra de Alah", assim o modelo de Polis é o Estado Islâmico sob a supervisão "welayet-al-faqih", onde o Teólogo Jurista desempenha o cargo de Guia Supremo actualmente é o "ayatollah" Ali Khamenei, deste modo o Movimento/Partido Hizbollah é gerido por um uma Hierarquia de "Mujtahid" ou "gente que faz um esforço (ijtihád) de procura da verdade" sendo todos os seus lideres "Mestres" (Mollah), pois os restantes títulos dessa Hierarquia são difíceis de alcançar por alguém tão distante dos lugares santos Xiias e sem escolas com preponderância para formar graus superiores. O Hizbollah como referi reúne diversos movimentos, com preponderância do ramo libanês do partido Ad-Daawa (fundados e apoiados pelo Irão os partidos Ad-Daawa tinham na altura da sua fundação os ramos Jordano, Iraquiano que chegou a ser o mais importante movimento de oposição Xiia Iraquiana, e o ramo Palestino que é agora o Hamas), na época da sua fundação, os objectivos declarados deste partido eram estender a revolução islâmica iraniana e criar um estado islâmico no Líbano, o que lhes deu o nome popular de "partido de Deus" (Hizbollah) confundindo-se assim este partido com a Federação de movimentos que está na sua origem, hoje este Partido tem temporariamente renunciado a este objectivo, sendo que nas regiões de predominância Xiia, toma progressivamente o lugar do seu rival Partido Amal (que é anti-palestiniano e era claramente pró Sírio, embora se tenha nos últimos tempos distanciado progressivamente de Damasco a partir de 1989), enfraquecido pela corrupção. O Hizbollah é uma organização claramente terrorista, o responsável comprovado pelos atentados de 17 de Março de 1992 (em que uma bomba fez trinta mortos na Embaixada Israelita na Argentina) e de 18 de Junho de 1994 (num atentado que fez 87 mortos num Centro Comunitário Judaico também na Argentina), nos quais o estado argentino acusou formalmente o Irão e o Hizbollah de estarem implicados sendo que vários membros da comunidade Xiia local, com ligações ao Hizbollah, foram detidos, julgados e condenados pelos atentados. Desde 1989 que esta organização é legal e partidária, no Líbano, e conta com deputados (14 em 128) e Ministros, no Governo, sendo que o actual Presidente da Assembleia é um dos seus Deputados eleitos, a sua plataforma ideológica política é simples: protecção do povo Xiia contra as outras comunidades (estando a tentar estabelecer pontes com os Sunnis pró Sírios); a luta contra o estado de Israel, defendendo o deslocamento integral deste Estado e a expulsão da população israelita para outras regiões do planeta. Este partido desenvolve também uma série de actividades em cinco áreas de actuação principal: ajuda a familiares dos "mártires", ou seja, bombistas suicidas que morrem em Israel depois de terem morto civis e militares, bem como os seus combatentes mortos nos bombardeamentos Israelitas e nas suas Guerras com Israel; Saúde em que possui uma rede com 5 hospitais, 43 clínicas e 2 escolas de enfermagem em todo o Líbano e segundo a O.N.U., pelo menos 220 mil pessoas de 130 cidades libanesas se tratam nesses locais; Educação religiosa Xiia possuindo uma rede de 12 escolas com 7000 alunos e 700 professores e centros culturais franceses que auxiliam no aperfeiçoamento do corpo docente; Reconstrução sendo que nesta área existe uma instituição exclusiva para reparar danos causados, aos Xiias, pelos ataques israelitas, motivados pelas represálias destes aos seus ataques terroristas; Agricultura onde engenheiros agrónomos formados em Beirute, na Síria, no Irão e na Alemanha, desenvolvem projectos agrícolas para garantir a base da economia de subsistência do sul do país. O Hizbollah construiu estas instituições e as mantêm com o apoio financeiro do Irão e da Síria, embora nos últimos tempos através da cobrança do "Zakat al fitr" (doação de esmolas aos pobres, um dos cinco pilares do Islão que é feito na altura do Ramadão) para as suas instituições de caridade consegue manter todos estes projectos, sendo quase independente do apoio do Irão nestas áreas, ainda sobre este assunto convêm referir que após a investigação e neutralização de uma rede de trafico de droga libanesa efectuada pelas polícias brasileira e equatoriana, efectuada no dia 21 de Junho de 2005, levantaram-se fortes suspeitas sobre que o Hizbollah seria o eventual destino dos lucros obtidos por este tráfico de estupefacientes. Estes projectos ajudam o Partido a conquistar apoio popular e político, influência ideológica e a recrutar, treinar e manter membros da sua milícia armada entre a população local Xiia. Desde de Setembro de 2004, o Conselho de Segurança da O.N.U. levou a votação uma resolução que exigia, designadamente, o desarmamento do conjunto das forças não governamentais no Líbano, esta resolução que ordenava que "todas as milícias libanesas e não libanesas fossem dissolvidas e desarmadas" e o Hizbollah (designado muito claramente), face a esta clareza das intenções, quando se tentou pôr em pratica a mesma, demonstrou-se que existia um impedimento de natureza não factual na implementação e execução desta medida no terreno, invalidando ou tornando inócua a tal resolução, com o número de 1559, pois o Hizbollah recusou, qualquer desarmamento. Este tem contra si uma parte das forças da oposição libanesa favoráveis à execução completa desta resolução (ou seja a que haja um estado libanês soberano) que propõem um plano de desarmamento, que o Hizbollah recusa, enquanto considerar que o exército libanês não pode assegurar a segurança no Sul do Líbano. Com uma ronda de negociações em Maio de 2005 foi pedido ao Hizbollah que proponha um plano de desarmamento este recusou tal proposta, na oitava sessão da conferência de diálogo que visa chegar um acordo sobre o desarmamento do Hizbollah que se iniciou a 8 de Junho de 2006, por casa desta posição inamovível do Hizbollah esta acabou em desacordo.
1 Comments:
para mim que ando a leste dos motivos destes conflitos o teu artigo foi mais que esclarecedor. e ainda bem que ha quem escreva sobre estas coisas e deixe os poemas para os outros.
abraço da leonoreta
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