NÃO APAGUEM A MEMÓRIA!!!
É finalidade desta iniciativa cívica continuar essa acção, convertendo-a no impulso simbólico dum vasto movimento de cidadãos, plural e aberto, de exigência da salvaguarda, investigação e divulgação da memória do fascismo e da resistência, como responsabilidade do Estado, do conjunto dos poderes públicos e da sociedade.
1. Reclamamos dos poderes públicos que, mais de 30 anos passados sobre o 25 de Abril, assumam a responsabilidade de constituir um espaço público nacional de preservação e divulgação pedagógica da memória colectiva sobre os crimes do chamado Estado Novo e a resistência à ditadura, que aproveite os espaços emblemáticos dessa realidade como são o Aljube, o Forte de Peniche, Caxias, a sala do plenário da Boa-Hora, a sede central da PIDE/DGS e a sua Delegação do Porto, e que coordene a sua acção com o valioso trabalho desenvolvido neste domínio por diversas instituições;
2. Condenamos a conversão do edifício da sede da PIDE/DGS em condomínio fechado e exigimos a criação de um espaço e de um elemento memorial naquela área, que assegurem a memória e a homenagem ao sofrimento de muitos portugueses e a condenação dos crimes cometidos pela polícia política do fascismo, que constituiu um dos principais pilares da ditadura;
3. Apelamos a todos os cidadãos e organizações que multipliquem, partilhem e tomem nas suas mãos, pelas formas e iniciativas que entenderem, a preservação duradoura da memória colectiva dos combates pela democracia e pela liberdade em Portugal, como elemento indispensável à construção de um futuro melhor.
Porque sem memória não há futuro:
Há 60 anos atrás, em Portugal, foi criada a polícia política do Estado Novo. A Polícia Internacional e de defesa do Estado (PIDE), último dos diversos nomes adoptados para este tipo de polícia, tinha como principais competências proceder à instrução preparatória dos processos respeitantes a crimes contra a segurança do Estado, sugerir a aplicação de medidas de segurança e definir o regime de prisão preventiva e de liberdade provisória dos arguidos.
Para além da destruição da saúde de muitos milhares de homens e mulheres que corajosamente enfrentaram o fascismo, da perseguição, da prisão e da tortura, nas prisões da PIDE, estão também, na nossa memória colectiva, bem presentes as vítimas assassinadas pelo fascismo de entre estas, podemos destacar alguns casos a saber:
- Dezenas de Tarrafalistas, anarco-sindicalistas, republicanos e comunistas, deportados para o Campo de Concentração do Tarrafal e que aí morreram vítimas das torturas e ausência de condições mínimas de sobrevivência a que foram sujeitos.
- Manuel Vieira Tomé, ferroviário, sindicalista envolvido na organização da Greve Geral Revolucionária de 18 de Janeiro de 1934, assassinado pela PIDE, na sequência da sua prisão em 1934.
- Ferreira Soares, médico antifascista de Espinho, assassinado a tiro pela PIDE no seu consultório em 1942.
- Catarina Eufémia, assassinada pela GNR, com um filho ao colo, em Baleizão, em 1945,durante uma manifestação.
- O candidato antifascista à Presidência da República, Humberto Delgado, assassinado por um comando da Pide em Espanha, junto à fronteira portuguesa.
- Germano Vidigal, operário da construção civil, sindicalista antifascista, assassinado pela PIDE em 1945.
- Alfredo Diniz, comunista na clandestinidade, assassinado pela brigada da PIDE comandada por José Gonçalves, em 1945.
- Soeiro Pereira Gomes, escritor e antifascista, morre em 1949, perseguido pela PIDE, já bastante doente e impossibilitado de se tratar.
- Militão Ribeiro, morre nos calabouços da PIDE após tortura, em 1950,depois de escrever uma carta aos seus companheiros comunistas, utilizando o seu próprio sangue como tinta.
- José Moreira, operário tipográfico, responsável pelas tipografias clandestinas ligadas ao PCP, morre em 1950, após prisão e torturas pela PIDE.
- Alfredo Lima, operário agrícola de Alpiarça, assassinado a tiro pela GNR, durante uma manifestação antifascista em 1950.
- Cândido Martins, operário assassinado em Almada em 1961 pelas forças repressivas fascistas, durante um protesto público.
- José Dias Coelho, comunista na clandestinidade, pintor, assassinado na rua pela PIDE, em Lisboa e em 1961.
- António Adângio, mineiro de Aljustrel, assassinado pela GNR em 1962, durante uma manifestação contra o fascismo.
- Estêvão Giro, assassinado pela polícia, durante a manifestação proibida do 1º de Maio de 1962, em Lisboa.
- Ribeiro dos Santos, estudante maoísta, do MRPP, assassinado pela PIDE na Cantina da Cidade Universitária de Lisboa, em 1972.
- João Arruda, Fernando Reis e José Barnetto, assassinados no dia 25 de Abril de 1974 pela PIDE, durante a manifestação em frente à sua sede, em Lisboa.
É essa sede, nos n.º 30 a 36 da Rua António Maria Cardoso, que agora um grupo privado quer transformar em condomínio de luxo!
Após o 25 de Abri de 1974,durante anos e anos foi votada ao abandono, sem que existisse qualquer interesse em transformá-la num local onde a memória das torturas de milhares de pessoas pudesse ser preservada.
Para nós a memória da noite fascista e da resistência antifascista não pode ser apagada!
Por isso, exigimos à autarquia lisboeta que aquele edifício se transforme num museu que possibilite a preservação da nossa memória colectiva e a sua investigação. Um espaço que dignifique a luta pela liberdade e que possibilite a investigação histórica sobre o Estado Novo.
Adere a este movimento e subscreve a sua lista de discussão enviando um e-mail para:
todos-maismemoria.org-subscribe@maismemoria.org
Mais informações em: http://maismemoria.org/
7 Comments:
boas !
gostei muito do seu blogue! parece que temos certas cenas em comum.
aqui prós lados do Porto acções desse âmbito, que alude no post, são muito raras. Parece que estamos a 5 mil km de Lisboa (nada contra Lisboa, pelo contrário , até já dei leccionei aí e sou benfiquista)
Acho que muita gente fora de Lisboa sente-se amargurado pois gostaria de viver mais as coisas do país e quase não o pode. experimente viver aqui uns meses e sentirá isso bem na pele. aqui é quase só presente, pouco passado e algum futuro.
Penso que já não necessita de porfirar por uma região de Lisboa independente pois este país, na prática, já praticamente acabou. Vamos é lutar por desenvolver as regiões, e numa práctica de intercâmbio entre elas.
big abr.
fernando vilarinho
Antes de terminar de ler o texto, ia sugerir em comentário a transformação do local em museu, à semelhança do que fizeram cá com os campos de concentração. É a memória de um país, de um povo, é bom que as gerações que nasceram e cresceram já em liberdade, como eu, saibam o que custou a liberdade.
Beijos
Subscrevo na íntegra.
Porque a memória, fazendo ainda parte de nós, deve ser transmitida aos vindouros.
Abraço.
Vim cá reavivar a memória e desejar-te um bom fim de semana.
Beijos da Lina/Mar revolto
Como não há nada de novo... deixo-te um abraço. Boa semana.
As coisas más nunca devem ser esquecidas, mas lembradas permanentemente para que não voltem a acontecer.
Quanto à iniciativa é a todos títulos louvável e mesmo que nada consigua a exigência deve permanecer,
Só é pena que haja tanta gente a quem interessa o seu esquecimento, não devemos esquecer a corrida que foi aos arquivos da Pide!
Um abraço. Augusto
A minha memória mandou-me vir cá visitar-te e deixar-te um beijinho :)
Lina/Mar Revolto
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