O OUTRO LADO DA MOEDA!!!

9.20.2007

São Paulo tem espaço para os ciclistas?

Você iria de bicicleta para o trabalho? E o trânsito, a distância, a camisa suada depois de várias pedaladas... desanimou? Confira aqui o número de ciclovias existentes em São Paulo e como andam os projetos da prefeitura que realmente incentivam o uso de bicicletas.
Mas só incentivar não é suficiente: é preciso que a maior metrópole do país apresente condições para se criar uma nova cultura que respeite quem optar pela bike ao invés do carro. Se você é daqueles que gostaria de pedalar mais em São Paulo, leia os tópicos a seguir e seja otimista.
São Paulo tem menos de 30 km de ciclovias
De acordo com a Prefeitura de São Paulo, a capital paulista tem 250 mil bicicletas - para mais de 10 milhões de habitantes - circulando todos os dias e menos de 30 quilômetros de ciclovias, sendo que 19 deles estão dentro de parques.
Segundo a Secretaria Municipal do Verde do Meio Ambiente, há condições para a implementação de 104 km entre ciclovia, ciclofaixas e tráfego compartilhado no município. E foi exatamente para incentivar o paulistano a usar a bicicleta e melhorar as condições para quem já a utiliza, que foi criado o Grupo Executivo Pró-Ciclista.
Este grupo reúne representantes de cinco Secretarias, e técnicos da SPTrans e da CET. A idéia é estudar o fomento do uso da bicicleta na capital paulista. De acordo com o relatório, até o Banco Mundial liberará recursos por meio de um programa destinado a combater a diminuição da poluição do ar, e um dos itens é a área de transporte não motorizado.
Em SP são realizadas cerca de 130.000 viagens de bicicleta, de acordo com dados de 2002 da pesquisa origem/destino realizada pelo Metrô, o que corresponde a um aumento de 0,6% em relação à pesquisa anterior.
Se considerada como modo de transporte complementar, ou seja, associada a outros modos de transporte, a participação da bicicleta no quadro de viagens diárias tende a aumentar significativamente. A instalação de bicicletários seguros em estações de metrô e trem, em terminais de ônibus e locais com grande fluxo de pessoas vem sendo defendida pela Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente desde o início de 2005. No Brasil, o Rio de Janeiro registra o maior número de vias exclusivas para bicicletas: 140 quilômetros.
Kassab construirá ciclovia na Zona Leste em 2008
Um projeto lançado pelo governador José Serra e pelo prefeito Gilberto Kassab quer incentivar o uso de bicicletas na cidade de São Paulo. O objetivo é entregar já início de 2008, aos moradores da Zona Leste, uma nova ciclovia de 12,2 km.
Ela deve ser construída paralela à Radial Leste, um dos corredores de trânsito mais importantes da cidade. Batizado de "Caminho Verde", por incluir a plantação de 1.560 árvores ao longo do trajeto, a nova ciclovia ligará as estações Corinthians-Itaquera e Tatuapé. As estações Carrão e Corinthians-Itaquera também ganharão a construção de bicicletários, serviço que já está disponível na estação Guilhermina-Vila Esperança, na linha 3.
SP: faixa para bicicletas aos domingos
Uma das sugestões publicadas pelo Movimento Nossa São Paulo é a de isolar uma faixa das principais avenidas da capital aos domingos, para que a população redescubra o prazer de pedalar na capital paulista. Edgar Werblowsky é diretor do TOI - Tour Operators Initiative for Sustainable Tourism Developoment, da UNESCO e é o autor desta idéia.
Quem tiraria proveito da faixa para bicicletas aos domingos? Os paulistanos que gostam de pedalar, os que precisam fazer exercício, pais que não vêem seus filhos durante a semana, amigos que moram a uma distancia menor que 10 km um do outro, turistas enfurnados em hotéis, executivos que precisam trabalhar aos domingos, entregadores dos McDonalds, e tantos outros.
Segundo Edgar, a inspiração da faixa exclusiva para bikes aos domingos veio de duas fontes. A primeira, das cidades européias que já criaram tíquetes de bicicleta e bolsões de bicicletas, de maneira que o cidadão possa pegar uma bicicleta num ponto estratégico de Barcelona, ao lado de um metro ou museu, por exemplo, e entregar em outro.
A segunda, do congestionamento-monstro na Adventure Sports Fair, no Ibirapuera, fazendo com que uma feliz visita à feira possa fazer o cidadão passar por um calvário de quase uma hora para estacionar.
São Paulo poderia ser um lugar melhor para se pedalar?
Pedalar sozinho pela cidade de São Paulo requer coragem, antes de qualquer outra coisa. Há pouquíssimas ciclovias, além do fato do ciclista não ter vez na "selva de pedra", na disputa cada vez mais acirrada entre motoristas e motoboys no trânsito.
A falta de vias especiais leva ciclistas a disputar espaço com carros nas avenidas e ruas da cidade. Segundo a CET, no ano passado 84 ciclistas morreram atropelados nas ruas de São Paulo, número menor do registrado em 2005: 93 vítimas.
Nadando contra esta corrente está o médico e professor da USP, Paulo Saldiva, que, há 30 anos só anda de bicicleta, e não tem carro por opção. "A infra-estrutura é horrível, sim. O caminho tem que ser totalmente diferente, você não pode usar avenidas e tem que ser absolutamente defensivo. O risco de acidentes é muito grande. Mas, hoje, eu não passo aperto nenhum por causa da atitude. Andar de bicicleta é possível mesmo numa cidade agressiva como São Paulo" diz Paulo.
Em Dourados, 93% da população vai de bicicleta até o trabalho
Se formos para cidades bem menores que São Paulo, fica fácil incentivar o uso da bicicleta no Dia Mundial Sem Carro Talvez. Dourados, por exemplo, que tem cerca de 180 mil habitantes, no Mato Grosso do Sul, é é a capital nacional das bicicletas, em proporção ao número de habitantes. Em Dourados, apenas 7% dos trabalhadores utilizam o transporte coletivo; 93% circulam de bicicleta até o trabalho de acordo com o Conselho Estadual de Trânsito.
São Paulo é uma metrópole, com mais de 10 milhões de habitantes. Depois de ler esta informação, dá para se ter uma idéia do trânsito que existe em toda metrópole. Já a capital paulista possui uma peculiaridade, que é o caos existente entre motoristas e motoboys nas ruas durante a semana. Sem contar que as linhas de metrô são poucas, se comparadas às capitais da Europa, e atendem menos de 50% dos bairros na capital. Considerando todas essas informações, andar de bicicleta em São Paulo requer coragem. Há menos de seis meses, o Metrô-SP passou a aceitar bicicletas aos finais de semana. No entanto, como tal iniciativa não completou um ano ainda, a companhia não tem nenhum relatório que mostre o movimento das bikes nos trens.
Clima urbano e bicicleta
Pesquisadores do mundo todo têm se dedicado ao estudo das alterações climáticas provocadas pelas atividades humanas. Porém, essas alterações não podem ser medidas apenas em grande escala. Muitas das atividades que fazemos no nosso dia-a-dia associada à forma como a sociedade se apropriou e organizou o espaço geográfico têm grande impacto nos climas locais.
Em São Paulo, por exemplo, em um mesmo dia e horário, podemos aferir temperaturas muito distintas em cada bairro, podendo até ser registrado 10º C de diferença entre o centro e a periferia da cidade. Por quê? Entre os vários motivos, alguns são naturais e imutáveis e outros foram desencadeados por ações humanas.
Na capital paulista, o lançamento de poluentes tem crescido 5% ao ano, principalmente por causa do aumento de automóveis na cidade. Até quando vamos poluir, até o ar ficar totalmente irrespirável?
De acordo com um estudo sobre a influência do ritmo semanal das atividades humanas no clima da região metropolitana de São Paulo , realizada no Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo, há fortes indícios de que a cidade apresenta um comportamento climático semanal que varia conforme as atividades realizadas. Atividades urbanas que se concentram nos dias úteis e diminuem durante os fins de semana e feriados (menos automóveis e atividades industriais e mais bicicletas nas ruas), mudam o clima na capital. Tal estudo não passa de teoria ainda, pois os fatores que interferem no clima são muitos, além de haver diferentes interpretações de um mesmo fenômeno. Mas de qualquer modo, que andar mais de bicicleta provoca menos impactos negativos na cidade do que usar o carro, isso não se discute.